Nesta edição do nosso Pesquisa & Inovação, apresentamos as parcerias da UFRR com o Iphan e a Funai para o registro do ritual Areruya, coordenado pelo professor Rafael Trapp, e o curso de Formação dos Agentes Indígenas de Proteção Social (AIPS), realizado em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), sob a coordenação dos professores Pablo Albernaz e Sandro Martins.
Além dessas iniciativas, você conhecerá também os projetos de Pesquisa da UFRR que buscam estimular o interesse de meninas e mulheres pela Ciência. Um deles é o Projeto Stelas, coordenado pela professora Marcelle Urquiza, aprovado em edital do CNPq. Destacamos ainda o projeto “Estabilidade Térmica de Leite Cru por Meio do Teste de Alizarol usando Imagens Digitais”, aprovado no edital do Programa Futuras Cientistas/Imersão Científica 2026 promovido pelo MCTI, Ministério da Educação (MEC) e CNPq, sob a responsabilidade do professor da UFRR, Wilson Botelho do Nascimento Filho (EAgro).
UFRR realiza parcerias com Iphan e Funai para o registro do ritual Areruya e formação de agentes indígenas Yanomami/Ye’kwana
Objetivo das atividades é valorizar a cultura indígena, além de capacitar e fortalecer as políticas públicas voltadas à proteção das comunidades

Com o objetivo de intensificar as ações em defesa dos povos indígenas, a Universidade Federal de Roraima tem participado de várias iniciativas de valorização cultural, capacitação profissional e fortalecimento de políticas públicas direcionadas a essas comunidades.
Em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a instituição celebrou o Termo de Execução Descentralizada (TED), que visa o registro do ritual “Areruya”, do povo Ingarikó. A cerimônia de assinatura ocorreu no dia 22 de setembro, no Salão Nobre da Reitoria, localizado no campus Paricarana.
O TED possui o valor de R$300 mil, com apoio de emenda parlamentar destinada pelo deputado federal Stélio Dener (REP/RR). Conforme informações do Iphan, o objetivo é elaborar um dossiê de registro do ritual “Areruya” realizado pelos Ingarikó. O ritual é um bem cultural imaterial que está em processo de registro como patrimônio cultural do Brasil.
O professor da UFRR e coordenador da pesquisa, Rafael Trapp, explica que o povo Ingarikó habita a região Norte de Roraima, especialmente a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, com vínculos culturais e familiares com comunidades na Guiana e Venezuela.
“Estima-se que haja cerca de 2.000 Ingarikó no Brasil, distribuídos em 12 comunidades, que preservam a língua Kapon e práticas tradicionais apesar do crescente contato com a sociedade envolvente. A geografia isolada da região, aliada a escolhas políticas de distanciamento de missões e de outras etnias, favoreceu a continuidade cultural do grupo”, informa Trapp.

A assinatura do TED é considerada a fase de instrução técnica em que os pesquisadores irão reunir dados, pesquisas e registros da manifestação cultural com o objetivo de formar um dossiê para seguir para outras etapas de registro.
“O Areruya, religião de origem ancestral e sincrética, mescla elementos indígenas e cristãos e que, diferentemente de outros povos, permanece viva apenas entre os Ingarikó, sendo vivida coletivamente em cerimônias nas aldeias. O Areruya constitui o eixo espiritual e social da vida Ingarikó. Realizado em soosi (malocas-igreja), envolve cantos, danças em espiral, consumo de caxiri e práticas que expressam uma cosmologia própria, baseada em dois mundos: a terra (worî) e o paraíso (epîn). Sua ética valoriza o conhecimento divino, a solidariedade, a harmonia com a natureza e a preparação para a salvação após a morte”, explica Rafael.

O professor ainda observa a importância do reconhecimento oficial da prática como patrimônio brasileiro.
“Existe um enfraquecimento do Areruya causado pela crescente inserção dos jovens no mundo urbano e pela pressão dos modos de vida não indígenas. Então o reconhecimento dessa prática como patrimônio cultural imaterial surge como uma estratégia fundamental para sua valorização, salvaguarda e fortalecimento político. Este processo vai respeitar o protagonismo dos próprios Ingarikó e se fundamentar em suas formas próprias de memória, história e cultura”, observa o pesquisador.
O vice-reitor da UFRR, Silvestre Lopes da Nóbrega, destaca a assinatura do TED e também a oportunidade de ajuda mútua entre as instituições para valorização da cultura indígena e amazônica.
“Para a UFRR é uma honra participar deste momento em que se busca o reconhecimento histórico do ritual Areruya do povo Ingarikó. Estar presente nessa construção reafirma nosso compromisso com a valorização dos saberes e práticas indígenas, promovendo a integração entre ensino, pesquisa e extensão, e contribuindo para que as comunidades indígenas preservem e fortaleçam suas tradições com protagonismo, dignidade e respeito às suas próprias formas de memória e cultura”, destaca o vice-reitor.
Projeto de Proteção Social Yanomami/Ye’kwana

Como parte das ações do projeto de proteção social Yanomami/Ye’kwana, a UFRR está realizando, em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), o curso de Formação dos Agentes Indígenas de Proteção Social (AIPS).
O primeiro módulo do curso foi realizado entre os dias 17 e 23 de agosto na comunidade Tabalascada, localizada na Terra Indígena Yanomami. O curso é uma das atividades do acordo firmado entre o Instituto de Antropologia Social da UFRR e Funai por meio de outro Termo de Execução Descentralizada (TED). O TED é coordenado pelo professor Pablo Albernaz (INAN-UFRR) e integra as ações emergenciais voltadas à crise humanitária Yanomami e Ye’kwana para pensar ações específicas de proteção social voltada a esses povos.
Albernaz destaca a formação como um passo importante e reforça o papel da UFRR na construção desse projeto. “O TED Funai/UFRR tem várias frentes de atuação ligadas à qualificação da rede socioassistencial do estado. Ele é importante na construção de políticas públicas mais sensíveis às realidades indígenas e isso reforça também o papel da universidade na resposta à emergência Yanomami e na valorização dos saberes dos povos originários”, destaca o professor.
Ao todo são 17 meses de estudo com certificação da Fiocruz. A oficina tem sido ministrada por professores do INAN/UFRR, do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Roraima (UERR), além de formadores da FUNAI e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e reuniu cursistas oriundos de todas as regiões da terra Yanomami/Ye’kwana. O objetivo foi construir coletivamente estratégias de cuidado e proteção social a partir das realidades e cosmologias locais.

O primeiro módulo abordou e aprofundou o entendimento sobre o papel dos AIPS como mediadores entre os saberes ancestrais e as políticas públicas. Entre alguns dos temas tratados estiveram direitos indígenas, equidade de gênero, proteção de crianças e enfrentamento às violências nas comunidades. Além disso, ocorreram atividades práticas de letramento bancário, orientação sobre documentação civil e acesso a benefícios sociais.
O professor da UFRR, Sandro Martins Santos é o coordenador/ponto focal da UFRR para o curso. Ele destaca que toda a formação busca também valorizar as práticas e saberes indígenas, além de incentivar o protagonismo das mulheres.
“Práticas espirituais e culturais como formas legítimas de proteção social como cantos de cura, rituais de nascimento, parteiras e pajés foram reconhecidos como agentes fundamentais no cuidado comunitário. A formação incentivou o protagonismo das mulheres e jovens indígenas, promovendo rodas de conversa sobre violência doméstica, casamento precoce e os impactos da internet nas dinâmicas culturais. A escola e as associações indígenas foram apontadas como espaços estratégicos para disseminar esses conhecimentos e construir redes de proteção nos territórios”, afirma Santos.
O encerramento da primeira parte foi marcado por cantos, danças e uma roda de avaliação que celebrou os aprendizados e reafirmou o compromisso com a continuidade da formação. O momento contou ainda com a presença da liderança Yanomami, Davi Kopenawa.
O segundo módulo do curso iniciou no mês de setembro e ocorre novamente na comunidade Indígena Tabalascada. Conforme o calendário do curso, as atividades seguem até agosto de 2026.
“Nosso curso é dividido em duas etapas, sendo uma chamada “tempo cidade” e outra “tempo território” quando os cursistas serão estimulados a realizar pequenas pesquisas sobre a realidade da sua própria comunidade. Para o “tempo território” todos os professores da UFRR e da UERR estão envolvidos em atividades de orientação”, explica Santos.
Projetos de pesquisa da UFRR reforçam representatividade feminina e equidade de gênero
Objetivo dos projetos é estimular o interesse de meninas e mulheres nas carreiras que envolvam desenvolvimento científico, tecnológico e inovação

Despertar a vocação, a representatividade feminina e geração de oportunidades educacionais e profissionais. Esses são alguns dos principais objetivos de dois projetos comandados por professores e pesquisadores da Universidade Federal de Roraima.
Um deles é o Projeto Stelas – “Telessaúde como Instrumento de Inclusão de Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação”. Destinado às alunas do 8º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, o foco é a inclusão de meninas nas áreas de Ciências, Tecnologia e Exatas.
O projeto é uma iniciativa aprovada em edital lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério das Mulheres (MMulheres) e realizada pela UFRR, em parceria com diversas instituições de ensino e pesquisa.
A professora do Departamento de Ciência da Computação da UFRR, Marcelle Urquiza, destaca que o intuito é estimular o interesse de meninas e mulheres para que foquem nas carreiras de ciências exatas, engenharias e computação utilizando uma plataforma de telessaúde. “Estimular o interesse não apenas no ingresso, mas na formação, permanência e ascensão dessas meninas e mulheres, principalmente de escolas públicas e preferencialmente, negras, indígenas dos últimos dois anos do ensino fundamental II e do ensino médio”, explica.
Desta forma, o projeto visa oferecer um curso Introdutório de Tecnologias Emergentes (CITE) em que as alunas aprenderão conceitos e práticas nas áreas de realidade virtual, inteligência artificial, jogos sérios e computação. Por fim, haverá também a aplicação de um estudo de caso prático a ser realizado com o apoio da Plataforma Web de Telessaúde chamada de Reabnet (www.reabnet.com).

“O CITE é uma oportunidade de aprendizado sobre as inovações que estão transformando o mundo. O conteúdo do curso foi desenvolvido por alunas de graduação das áreas de ciência e tecnologia. Com apoio de professoras e pesquisadores foi construído um material prático, interativo e representativo”, observa ainda a professora Marcelle.
A equipe pertencente ao projeto é formada pela professora Marcelle Urquiza, os professores do Colégio de Aplicação da UFRR (CAp/UFRR), Valter Sá e Patrícia Lima, que participam ativamente da iniciativa e acompanharão as estudantes durante todo o projeto e pelas alunas do curso de Ciência da Computação, Jasmin Sabini e Shelly Leal que desenvolvem conteúdos e realizam a divulgação científica.
As aulas estão ocorrendo às terças e quintas no Laboratório do DataScience, localizado no prédio do Centro de Inovação e Tecnologia (CIT), no campus Paricarana, próximo ao Centro Amazônico de Fronteiras (CAF). O projeto Stelas (Sistemas e Tecnologias por Elas) possui ainda um perfil oficial no instagram para divulgação das atividades e também um site para outras informações.
O outro projeto denominado “Estabilidade Térmica de Leite Cru por Meio do Teste de Alizarol usando Imagens Digitais” foi aprovado por meio do edital do Programa Futuras Cientistas/Imersão Científica 2026 promovido pelo MCTI, Ministério da Educação (MEC) e CNPq.
A iniciativa tem o professor da UFRR, Wilson Botelho do Nascimento Filho (EAgro), como pesquisador responsável, os docentes do departamento de Química, Mirla Janaína Augusta Cidade e Francisco dos Santos Panero, além de Danielle Almeida de Oliveira e Leovergildo Rodrigues Farias, do Instituto Federal de Roraima (IFRR).
O programa tem como objetivo incentivar a participação de jovens estudantes do ensino médio e professoras da rede pública estadual no desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação, por meio de atividades de imersão em laboratórios. O objetivo é estimular o contato dessas alunas com essas áreas e contribuir com a equidade de gênero dentro do mercado de trabalho.
Conforme o professor Wilson, o projeto aprovado é antigo e abrange, principalmente, alunas do 2º ano do Ensino Médio. “É justamente para que elas possam ter essa imersão científica e na sua futura escolha de curso no momento em que irão fazer no vestibular elas possam escolher a área científica. É uma oportunidade para despertar vocações, fortalecer a representatividade feminina nas ciências e também promover a integração entre universidade, escola e comunidade. Não podemos esquecer que é voltado também para atender as professoras da rede pública estadual”, explica o professor.
As participantes integrarão projetos de pesquisa dentro das universidades, laboratórios, institutos e empresas. A imersão ocorrerá no período de 05 a 30 de janeiro de 2026.
Quem tiver interesse em conhecer detalhes sobre o programa Futuras Cientistas pode acessar o perfil oficial no instagram.