Publicado em: 4 de julho de 2025
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A Universidade Federal de Roraima (UFRR) será palco, no próximo dia 11 de julho, do evento “Diálogos LGBTQA+: letramento e resistência na Amazônia”, que que ocorre na sala FPEC do Bloco I da Licenciatura em Educação do Campo (LEDUCARR/UFRR), a partir das 8h30. A atividade propõe reflexões sobre cidadania, identidade e políticas públicas voltadas à população LGBTQIA+ da região Norte. O evento é gratuito, com certificação, e aberto à comunidade acadêmica e ao público em geral.

A proposta vai além da celebração do orgulho LGBTQIA+: trata-se de um espaço de escuta, articulação e reconhecimento das diversidades que compõem a Amazônia. O debate será conduzido pelo professor Elton Santa Brígida, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e contará com mediação do professor Tiago Nicolau, do Colégio Aplicação (CAP/UFRR).

Segundo Tiago, promover uma atividade como essa em uma universidade pública, localizada na região amazônica, é uma ato de enfrentamento ao apagamento histórico vivido por muitas identidades. “Falar da Amazônia é falar de um espaço marcado pela riqueza cultural, ambiental e humana, mas também por profundas contradições. Um aspecto pouco debatido, mas fundamental, é a presença de pessoas LGBTQIA+ entre os povos indígenas, que são maioria em nossa região. Essas identidades, muitas vezes invisibilizadas, também constroem e transformam a Amazônia, resistindo a preconceitos dentro e fora de suas comunidades”, afirma o professor.

A programação pretende discutir os desafios enfrentados cotidianamente por pessoas LGBTQIA+ em Roraima, desde obstáculos burocráticos para o reconhecimento de identidade até políticas públicas insuficientes ou inexistentes. “Embora tenhamos conquistado avanços importantes nos últimos anos, como a criminalização da LGBTfobia e o direito à retificação de nome, esses direitos muitas vezes não saem do papel. Ainda somos tratados como cidadãos de segunda classe”, aponta Tiago Nicolau. Ele destaca que, além da desinformação em repartições públicas, há resistência em delegacias para registrar denúncias de LGBTfobia, e dificuldade no acesso a tratamento hormonal pelo SUS.

Diante desse cenário, o evento defende o letramento como ferramenta de transformação social. “Conhecer verdadeiramente as pessoas que compartilham nosso cotidiano é um passo fundamental para construir uma sociedade mais justa e humana. Quando nos dispomos a conhecer essas trajetórias, quebramos estereótipos e compreendemos que a diversidade não é uma ‘questão’ a ser debatida, mas uma realidade humana que sempre existiu”, reforça o professor.

Para além da denúncia, o evento também celebra conquistas alcançadas nos últimos anos em Roraima. A criação de espaços de articulação política, o avanço na atuação da Defensoria Pública de Roraima nos processos de retificação de nome e gênero, a realização de casamentos coletivos LGBTQIA+ e a Parada do Orgulho são destacados por Tiago como frutos de uma luta coletiva que resiste mesmo diante dos retrocessos. “Essas conquistas não são apenas simbólicas, elas representam passos concretos rumo à inclusão e ao reconhecimento de nossa cidadania plena.”

Uma das principais pautas no debate do dia 11 de julho é a implementação de cotas para pessoas trans nas universidades. “A criação de políticas específicas para nossa comunidade não representa privilégios, mas sim a correção de desigualdades históricas. Quando abrimos as portas da universidade para a diversidade, estamos enriquecendo o ambiente acadêmico e fortalecendo a democracia”, destaca o professor.

O evento “Diálogos LGBTQA+: letramento e resistência na Amazônia” surge, assim, como um chamado à ação: por uma Amazônia onde todos possam existir com dignidade. “A verdadeira democracia só existirá quando todos, sem exceção, puderem exercer sua cidadania plenamente. E isso exige não apenas leis, mas mudança cultural, educação e políticas públicas que façam nossos direitos valerem na vida real. A luta continua, porque nossa existência não é negociável”, conclui Tiago Nicolau.