Publicado em: 28 de junho de 2025
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Em alusão ao dia do Orgulho LGBTQIAPN+, nós contamos histórias do Professor Simão Farias e dos Técnicos, Jacquicilea Souza e Pablo Oliveira. Além disso, convidamos vocês para participar do debate “Comunidade LGBTQIAPN+ e o meio ambiente”. 

Neste sábado (28) é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ e a Universidade Federal de Roraima por meio do grupo de pesquisa “Mídia, Conhecimento e Meio Ambiente: Olhares da Amazônia” promoverá no dia 31 de julho, a partir das 18h30, o debate “Comunidade LGBTQIAPN+ e o meio ambiente”. O evento ocorrerá na sala 141, do Centro de Comunicação, Letras e Artes (CCLA), localizado no campus Paricarana. 

As atividades terão a participação de representantes de movimentos sociais LGBTQIAPN+ de Roraima. Segundo o professor e organizador Simão Farias Almeida, o objetivo é discutir formas de representação desses movimentos sociais no estado roraimense. “O debate é motivado por discussões epistemológicas pós-coloniais. Entendemos que os grupos minoritários, subalternos e vulnerabilizados socialmente e ambientalmente também sofrem, como pessoas das periferias, comunidade indígenas e quilombolas, moradores de rua e, incluindo, a comunidade LGBT também. Trata-se de um debate necessário para que possamos pensar como a comunidade LGBTQIAPN+ pode se relacionar com essas discussões já que elas envolvem também pautas políticas, econômicas e sociais. É um debate complexo”, explica o professor.

Educação, Legitimidade, Visibilidade e Representatividade

A data de 28 de junho é lembrada por conta dos chamados Distúrbios de Stonewall (ou Revolta de StoneWall), que ocorreu nos Estados Unidos. O evento histórico é considerado um marco para a Comunidade LGBTQIAPN+.

 Essa luta em torno dos direitos da Comunidade é presente na vida de muitas pessoas em todo o mundo. Em Roraima, não é diferente. Na Universidade Federal de Roraima (UFRR), debates sobre o tema surgem por meio dos projetos de Extensão, Eventos, dentre outros. Mas, o que faz a diferença na nossa instituição são as pessoas. Uma delas é o professor e pesquisador do curso de Comunicação Social/Jornalismo, Simão Farias, também parte da comunidade LGBTQIAPN+.

“Eu compreendo a identidade de gênero e a sexualidade LGBTQIAPN+ como uma das características de cada sujeito. Como pesquisador e teórico na linha dos estudos pós-coloniais, entendo que as perspectivas de identidade são plurais, diversas e fragmentadas nos sujeitos. Ser LGBT de gênero masculino e sexualidade gay na atualidade continua sendo um desafio num contexto político, econômico e social conservador que é o caso também do estado de Roraima. É necessário sempre legitimar nossas vozes, nossas perspectivas, inclusive, envolvendo a questão ambiental”, afirma.

Simão Farias Almeida


O docente possui uma trajetória acadêmica na pesquisa e docência com foco nas questões do meio ambiente, natureza, mídia e cobertura jornalística, além das letras, cinema, literatura e cultura. “Tive mais empatia na perspectiva de pesquisador e docente em relação às questões de meio ambiente e natureza a partir do contato com a minha orientadora que passou a tratar de temas nesses campos do conhecimento. A partir disso, eu fui motivado a trazer as discussões para comunicação, jornalismo e cinema ambiental elaborando, produzindo e publicando artigos científicos, e-books e livros sobre cobertura jornalística em Roraima, a respeito de danos ambientais e mudanças climáticas e análise de filmes ambientais”, explica ainda.

Voltando ao assunto da legitimação e perspectivas da comunidade LGBTQIAPN+, Simão defende o papel fundamental das universidades como espaços de acolhimento, reflexão e transformação social. “A universidade precisa estar engajada e aberta a essas discussões. É importante valorizar o respeito e os direitos da comunidade LGBTQIAPN+, mas ainda precisamos ampliar nossa representação dentro dessas instituições. Debates, eventos e atividades são formas de dar visibilidade às nossas conquistas e às pautas que ainda precisamos lutar. A universidade tem o poder de legitimar essas questões, porque é uma instituição de ensino superior respeitada por boa parte da população brasileira”, pontua.

Ao longo de sua trajetória acadêmica, Simão comenta que se autodeclarar e legitimar como um professor parte da comunidade LGBTQIAPN+ é importante para que o docente possa ser um agente de mudança na luta pelos direitos da comunidade. “Essa é uma forma de mostrar aos alunos da comunidade LGBT que eles se sintam acolhidos. Nós docentes podemos compartilhar com alunos os desafios e alegrias de ser LGBT dentro de uma instituição de ensino superior e na sociedade. Temos que mostrar que a resistência faz parte do processo e as conquistas também. É o papel da docência no sentido de educar para os direitos humanos, democracia e a liberdade”, reforça.

Além de destacar avanços em pautas como o casamento igualitário e a adoção por casais homoafetivos, o professor aponta que ainda há muito a ser conquistado em termos de direitos e respeito à comunidade LGBTQIAPN+, especialmente no acesso à saúde pública, dignidade no envelhecimento e no combate à violência e ao preconceito. “As mídias deram maior visibilidade às nossas existências, mas parte da sociedade ainda não acompanha. Nosso parlamento não é democrático o suficiente para garantir todos os direitos, tanto que muitas conquistas só vieram por conta do Supremo Tribunal Federal (STF). Precisamos avançar, principalmente na garantia de dignidade, no respeito às práticas religiosas e no acesso à saúde pública específica para a população LGBTQIAPN+”, destaca.

Como mensagem para a comunidade acadêmica e a sociedade em geral, Simão Farias reforça a importância do engajamento contínuo. “Podemos fazer mais, criar mais engajamento, mais visibilidade e mais legitimidade dentro e fora da universidade, por meio de debates, eventos, materiais didáticos e comunicacionais. A autodeclaração é um ato de respeito à pluralidade e à diversidade”, conclui.

Para conferir alguns trabalhos do professor Simão basta acessar o blog que possui e-books, poemas, arquivos acadêmicos e outras produções

A importância do Orgulho é ser a gente mesmo

A história do Técnico Administrativo em Educação (TAE), Pablo Oliveira, inicia em Minas Gerais. Foi lá que o marido do servidor recebeu a notícia que foi selecionado para trabalhar em Boa Vista. Foi então que decidiu solicitar a remoção por meio de um acordo  de cooperação técnica para vir para UFRR, onde já atua há 1 ano e 2 meses. 

Para ele, o dia internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ ocorre todos os dias, não só numa data específica. “Acho que essa data é de grande importância, assim, especialmente neste mês, né? Mas não só. Eu acho que é importante a gente lembrar que pra gente,  LGBTQIAPN+, o orgulho é todo dia. Assim, quando a gente sai de casa, quando a gente frequenta um ambiente um pouco mais conservador, quando a gente vai pro trabalho, quando a gente volta pra casa e está tudo bem”, destacou. 

Oliveira complementa ao dizer que é essencial toda a sociedade acolher as pessoas LGBTQIAPN+.  “Porque não basta, né? Porque se não fica aquela coisa muito assim ‘eu inclusive tenho amigos que são´, é eu acho que quando, por exemplo, se a gente ouve uma piada transfóbica ou homofóbica, até machista? Inclusive, se a gente rir ou se a gente não se manifesta em nenhum sentido, a gente está apoiando aquilo de certa forma. Eu acho que é importante se a gente ouve um comentário — piada machista, homofóbica, transfóbica — a gente tem que falar assim: ‘Ai nossa, que coisa sem noção isso que você está falando, coisa sem graça’. Enfim, a gente, acho que a gente tem que começar a reverter essa repressão, sabe? Inverter isso assim — começar a oprimir esses comentários, entendeu?”, ressaltou. 

Oliveira assinala que as atitudes mais valiosas e que contribuem para um ambiente de trabalho mais acolhedor são aquelas em que as pessoas demonstram o respeito e o apoio.  “Pra mim hoje é fundamental eu poder ser eu mesmo no meu ambiente de trabalho. É, pra mim, seria muito difícil trabalhar em um ambiente que as pessoas não me aceitassem ou me olhassem de jeito torto ou fizessem piadinhas ou comentários assim”, disse.

Pablo Oliveira

De acordo com Oliveira, é importante ter uma vida tranquila dentro do trabalho. “A gente passa muito tempo nele. E é muito importante que a gente consiga levar uma vida tranquila dentro do trabalho. Sem piada, sem olhar, sem comentário, e inclusive, com o apoio dos colegas, né? Eu acho que, eu acho que é importante também não só o respeito, mas o apoio à causa e, na medida do possível, lógico, mas que as pessoas,se interessem pelo tema, entendam a importância, celebrem o orgulho — não só o orgulho, mas eh o respeito à adversidade”. 

Respeito e orgulho de si mesma

Jacquicilea Soares de Souza iniciou sua história com a UFRR em 2009. Nascida e criada no Maranhão, ela decidiu vir para Boa Vista fazer a prova do concurso para a UFRR. Um pouco antes da sua aprovação, ela atuou por 9 meses como funcionária terceirizada. 

Ela conta que desejava ser concursada para ter melhores condições financeiras e não ter mais a preocupação de perder o emprego por conta da sua orientação sexual. 

Jacquicilea Soares de Souza

A  posse como bibliotecária da UFRR ocorreu em 18 de janeiro de 2010. Desde então, ela contribui com a instituição. “ Na UFRR eu nunca me senti discriminada, nunca precisei me esconder. Hoje eu consigo ter a liberdade que sempre desejei, com um emprego estável”, destacou. 

Atualmente, ela está na Direção das Bibliotecas e ressalta: “ Eu tenho orgulho de ser quem sou, de não precisar me esconder, de não precisar me justificar por minhas escolhas”.

Para a servidora, pequenas atitudes no dia a dia podem contribuir para um ambiente mais acolhedor para pessoas LGBTQIAPN+. “A maior atitude que se pode ter em qualquer lugar e em qualquer momento é o respeito. Só isso basta”, afirma.