O Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras (PPGSOF) desempenha um papel estratégico na promoção do desenvolvimento científico regional e na ampliação do conhecimento sobre as dinâmicas sociais e econômicas das fronteiras amazônicas. Por meio de sua atuação interdisciplinar, o programa gera impactos que transcendem o ambiente acadêmico, alcançando diferentes setores da sociedade e contribuindo para a formulação de políticas públicas mais eficazes.
O PPGSOF tem sido um agente impulsionador da qualificação profissional e da geração de conhecimento aplicado à realidade amazônica. A formação de mestres em áreas estratégicas fortalece setores como educação, gestão pública, políticas migratórias e desenvolvimento sustentável. Projetos de pesquisa e extensão vinculados ao programa colaboram com a inserção de profissionais capacitados em órgãos governamentais, organizações internacionais e empresas, promovendo o fortalecimento refinamento do mercado de trabalho e da economia local. Além disso, ações como cursos de capacitação para migrantes e refugiados contribuem diretamente para sua integração ao mercado de trabalho, gerando um ciclo de inclusão produtiva.
O PPGSOF tem demonstrado um impacto expressivo na empregabilidade e qualificação profissional de seus egressos, contribuindo significativamente para o mercado de trabalho local. Desde sua criação, o programa titulou 149 mestres, com um alto índice de conclusão do curso (95,5%) e uma taxa de ocupação profissional de aproximadamente 90%. Esses números ressaltam a relevância do programa na formação de profissionais qualificados para atuar em diferentes setores, especialmente no serviço público, em organizações não governamentais e no ensino.
A formação no PPGSOF também tem impacto direto na renda dos egressos, com 41,1% recebendo entre 5 e 9 salários-mínimos e 38,9% entre 3 e 4 salários-mínimos, números superiores à média salarial brasileira, que gira em torno de R$ 2,941.95 no quatro trimestre de 2024, segundo dados do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) do IBGE. Além disso, 9,5% dos egressos recebem mais de 10 salários-mínimos, o que demonstra que a titulação agrega valor à carreira profissional, ampliando oportunidades de crescimento e progressão salarial.
No aspecto qualitativo, 82,7% dos egressos afirmaram que o curso foi essencial para seu sucesso profissional, destacando a importância do mestrado na qualificação para o mercado de trabalho, a ampliação do pensamento crítico e a preparação para atuar em áreas estratégicas como políticas públicas, direitos humanos, questões migratórias e ensino. Além disso, 56,7% relataram que o programa os incentivou a participar de projetos ligados à responsabilidade social, ampliando seu impacto na sociedade.
A dimensão social do PPGSOF se evidencia na sua forte atuação junto às populações mais vulneráveis, incluindo comunidades indígenas, migrantes venezuelanos e demais grupos historicamente marginalizados. O programa participa ativamente de iniciativas voltadas à inclusão social, como já mencionado em outras seções desse relatório. Além disso, sua articulação com redes internacionais de pesquisa e organismos humanitários fortalece a resposta às demandas sociais, promovendo um ambiente acadêmico comprometido com a sociabilidade e a equidade de direitos.
No campo cultural, o PPGSOF contribui significativamente para a valorização e preservação das identidades regionais, fomentando estudos sobre a diversidade sociocultural da Amazônia e as dinâmicas das populações tradicionais. Pesquisas desenvolvidas no programa exploram a interseção entre fronteiras, migração e cultura, evidenciando a riqueza dos saberes locais e sua interação com processos globais. Além disso, eventos acadêmicos e científicos promovidos pelo PPGSOF incentivam o intercâmbio de conhecimentos entre diferentes comunidades, fortalecendo a identidade cultural e a memória coletiva da região.
O PPGSOF tem tentado também promover a valorização e preservação da diversidade cultural da Amazônia, especialmente por meio de ações que promovem o resgate, a visibilidade e a inserção social de comunidades indígenas, migrantes e grupos tradicionais. Entre essas iniciativas, destacam-se a Exposição Fotográfica Permanente: Oficina de Elaboração de Redes Warao, a parceria com a organização internacional Fe y Alegría, e o envolvimento na Feira Cultural Axé Kitanda, em parceria com o Instituto Federal de Roraima, que expressam de forma significativa o impacto cultural do programa.
(https://ecologia.feyalegria.org/)
(https://www.ifrr.edu.br/noticias/campus-do-ifrr-realiza-edi%C3%A7%C3%A3o-da-feira-cultural-ax%C3%A9-kitanda/)
A atuação do PPGSOF se destaca por meio de ações afirmativas, formação de profissionais para áreas estratégicas, contribuição na construção de políticas públicas e forte inserção em projetos de extensão universitária. Essas frentes consolidam o programa como um espaço não apenas de interesse acadêmico, comprometido com a transformação social e o fortalecimento da cidadania. Assim, o PPGOSF é um ambiente extremamente dinâmico academicamente, com diversas ações que possuem alguma sinergia com impacto econômico, social e cultural. Todavia, na sequência, destamos e contextualizamos algumas ações que melhor caracteriza esse impacto e retorno.
Assim, descamos como uma ação de inovação o Projeto Laboratórios Socionaturais Vivos como Instrumento de Melhoria Pedagógica nos anos Finais do Ensino Fundamental em Escolas Indígenas, que realizou cursos de extensão, ministrados pelos professores Maxim Repetto, Paulo Maroti e Isabel Maria Fonseca, em diversas comunidades indígenas durante desde a criação do projeto, tais como: Comunidade indígena Willimon, Comunidade indígena Camararen, Comunidade indígena Malacacheta e Comunidade indígena Uiramutã.
São ações de inserção social que se desenvolvem mediante atividades junto a comunidades indígenas em regiões de difícil acesso, promovendo a divulgação do conhecimento indígena e o diálogo intercientífico com os conhecimentos tradicionais dos povos Makuxi, Wapichana e Ingarikó, em uma perspectiva de integração de ações e otimização do uso de recursos socionaturais. Um aspecto importante da formação ativa dos estudantes de pós-graduação se refere a possibilidade de participar destas ações e coordenar atividades em diferentes escolas, participando e assumindo responsabilidades, as quais são muito importantes no processo de formação profissional como pesquisadores da área interdisciplinar em Ciências Humanas. São ações inovadoras, qUe promovem não apenas o estímulo à integração entre pós-graduação, graduação e educação básica, mas também caracteriza um retorno social importante alinhado à missão e objetivos do PPGSOF. No projeto participam alunos de iniciação científica e egressos do PPGSOF.
Nessas atividades, a articulação entre pesquisa e extensão universitária tem possibilitado não apenas a promoção da inserção social e da divulgação científica junto às comunidades que necessitam e esperam o apoio das universidades e dos pesquisadores, mas também a formação dos estudantes do programa de pós-graduação. Essa abordagem integradora entre pesquisa, ensino e extensão fortalece os processos investigativos, contribuindo de maneira significativa e dinâmica para a construção das dissertações.
Destaca-se, que essa atividade também parte dos iniciativas do Projeto PROCAD/AM: Estado e Políticas Sociais na Amazônia: diálogos críticos sobre apropriação de territórios e recursos naturais, mobilidades humanas e desestruturação de sistemas de conhecimento, desenvolvido em parceria pelo PPGSOF/UFRR, PDTSA/UNIFESSPA e PPGCS/UENF. Este projeto permitiu desenvolver diversas atividades que se pode definir como inovadoras, porque proporcionaram experiências novas e interessantes, assim como permitiram desenvolver novas parcerias e novas propostas de pesquisa. Foram realizadas ofertas de disciplinas com participação de docentes das universidades parceiras, participação em bancas de qualificação e de defesa de mestrado, possibilidades de novas publicações, videoconferências em parceria, missões nas universidades com visitas de pesquisadores e envolvimento de corpo docente e discente.
Outro mecanismo fundamental de inserção social tem sido a oferta regular de vagas especiais para candidatos indígenas, considerando sua representatividade na população do estado, além de pessoas negras (pretos e pardos) e pessoas com deficiência física. Esse processo seletivo inclusivo já permitiu a entrada de um número significativo de estudantes através das políticas de ações afirmativas, promovendo uma importante diversificação no corpo discente e contribuindo para sua qualificação profissional, ampliando suas oportunidades no mercado de trabalho e fortalecendo sua atuação em suas comunidades. Essa questão se soma as ações de pesquisa e extensão em comunidades indígenas, desenvolvidas por professores e alunos do Programa que também participam do Instituto Insikiran de Formação Indígena, que desenvolvem diversas ações de formação em comunidades.
Na construção de um ambiente para consolidar e aglutinar iniciativas sobre políticas de ações afirmativas, destacamos o projeto de extensão “Equidade na formação de estudantes indígenas e de ações afirmativas na Amazônia: da escola à universidade, os desafios das desigualdades na educação”. O projeto busca estudar, em perspectiva comparada, experiências de pesquisas educacionais intercientíficas e interculturais sobre ações afirmativas e inserção social de estudantes indígenas na Amazônia, desde as escolas até a universidade, avaliando o impacto das políticas públicas para a região. O projeto conta com recursos proveniente do Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-Graduação (PROEXT-PG) da CAPES.
Este projeto estabelece uma parceria entre universidades situadas na região amazônica, nos estados de Roraima, Pará e Rondônia, que desenvolvem ações afirmativas voltadas para povos indígenas, quilombolas, outras populações tradicionais e pessoas com deficiência. A população indígena assume um papel central nessa iniciativa, considerando os dados do último Censo do IBGE (2023), que apontam que 44,48% dos indígenas do Brasil vivem na região Norte, totalizando 106.634 pessoas em Roraima, 80.974 no Pará e 21.153 em Rondônia.
Nessas universidades, os programas de pós-graduação mantêm uma forte integração com os cursos de graduação e com a sociedade civil, promovendo ações que articulam ensino, pesquisa e extensão. O projeto envolve diversos programas de pós-graduação e cursos de graduação da Universidade Federal de Roraima (UFRR), da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), além da participação da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) como instituição associada. As parcerias abrangem as seguintes unidades acadêmicas:
UFRR: Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras (PPGSOF) e o polo do Doutorado em Educação na Amazônia (Doutorado em Rede Educanorte), em colaboração com o Curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena.
Unifesspa: Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA), em parceria com o Curso de Educação do Campo.
UNIR: Mestrado em Letras (PPGL) e o Curso de Licenciatura Intercultural Indígena.
UFOPA (Santarém): Participação como instituição associada por meio do Instituto de Formação Intercultural Indígena (IFII).
Essas instituições já realizam diversas ações de formação para estudantes indígenas oriundos de comunidades tradicionais, bem como projetos de extensão em escolas indígenas. Nos estados envolvidos, os sistemas de educação desenvolvem iniciativas voltadas à educação escolar indígena, porém, os estudantes enfrentam inúmeras dificuldades para ingressar e permanecer nas universidades, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Essas barreiras incluem lacunas na formação básica, falta de investimentos na infraestrutura escolar das comunidades, exclusão digital e acesso desigual a tecnologias e metodologias educacionais inclusivas. Como consequência, o rendimento escolar é prejudicado, afetando diretamente o acesso e a permanência nos cursos superiores.
Diante desse cenário, este projeto busca compreender os desafios enfrentados pelos estudantes indígenas desde a educação básica até o ensino superior, passando pelos processos de ingresso e permanência nas universidades públicas da Amazônia. Por meio de um estudo comparado, será possível identificar dificuldades e contradições, além de propor estratégias e políticas de inclusão que respeitem as particularidades culturais e sociais desses grupos, ao mesmo tempo em que reconhecem suas similaridades.
A relevância desta iniciativa está na necessidade de desenvolver indicadores para avaliar a educação escolar indígena, tanto na educação básica quanto no ensino superior. Isso permitirá uma compreensão mais ampla das dificuldades enfrentadas pelos estudantes indígenas e contribuirá para a formulação de estratégias que promovam sua inserção social e acadêmica. Além disso, o projeto visa fortalecer a integração entre pós-graduação, graduação e educação básica, incentivando a construção de políticas universitárias e educacionais que favoreçam a inclusão desses estudantes nos processos educacionais e no desenvolvimento sustentável e equitativo da Amazônia.
Ainda no âmbito do projeto Equidade na “Formação de Estudantes Indígenas e de Ações Afirmativas na Amazônia”, essa ação também participou e foi contemplada no Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG) – Políticas Afirmativas e Diversidade no eixo temático de equidade e combate ao racismo na educação. Essa proposta resultou um uma bolsa de mestrado para discente Otacília Carolina Gomes Brito, ingressante pelas ações afirmativas e que desenvolve o projeto de dissertação Racismo religioso em Roraima: um estudo acerca das manifestações da intolerância religiosa em terreiros roraimenses. Também resultou em um bolsa de pós-doutorado, onde a bolsista Suety Libia Alves Borges desenvolve o projeto “Leitura, escrita e fala acadêmicas como política afirmativa para estudantes indígenas e quilombolas em programas de pós-graduação na Amazônia”.
Esse projeto também foi a força motriz para a realização do VI Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras (VI SISF) e o I Seminário Amazônico de Ações Afirmativas (I SAF) de 12 a 14 de novembro de 2024, quando foi promovido um riquíssimo debate sobre o tema “Ações Afirmativas e Diversidades no Ensino Superior em Contexto de Fronteiras.” Este evento, de caráter internacional, se apresenta como um espaço crucial para a discussão de temas urgentes sobre diversidade, inclusão e fronteiras no contexto amazônico e global. O evento contou com a participação de diversas universidades parceiras e com palestras de pesquisadores nacionais e internacionais.
O PPGSOF um papel importante na implementação de políticas afirmativas no ensino superior, especialmente na Amazônia. A oferta de vagas especiais para indígenas, negros e pessoas com deficiência física, aliada às ações de pesquisa e extensão em comunidades tradicionais, evidencia o compromisso do programa com a inclusão e a equidade educacional. Esse engajamento não apenas contribuiu para a diversificação do corpo discente e para a qualificação profissional desses grupos tradicionalmente marginalizados, mas também fortaleceu o impacto social da pós-graduação, garantindo que os conhecimentos produzidos no âmbito acadêmico retornem às comunidades e gerem transformações concretas.
Além disso, o PPGSOF desempenhou um papel central no desenvolvimento de projetos. Essas iniciativas possibilitaram o financiamento de pesquisas, como as desenvolvidas por bolsistas de mestrado e pós-doutorado, e fomentaram espaços de debate qualificado, como o VI Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras e o I Seminário Amazônico de Ações Afirmativas. Essas ações demonstram o impacto social significativo do programa, reafirmando sua relevância na construção de uma educação superior mais inclusiva e na promoção de políticas que valorizem a diversidade e o direito à educação para todas as populações da Amazônia.
A extensão universitária é um dos pilares fundamentais da educação superior no Brasil, funcionando como um elo entre a academia e a sociedade. Nos programas de pós-graduação, ela se torna um poderoso instrumento para garantir o retorno social do conhecimento produzido, promovendo o diálogo entre pesquisadores e as comunidades. Ao articular pesquisa, ensino e ação social, a extensão possibilita a aplicação prática do saber acadêmico, contribuindo para a solução de desafios reais e ampliando o impacto das universidades na transformação social. Dessa forma, fortalece a democratização do conhecimento, impulsiona o desenvolvimento local e regional e reafirma o compromisso das instituições de ensino superior com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Nessa lógica, no PPGSOF se tem desenvolvidos importantes projetos de extensão que são fundamentais para caracterização do retorno social do programa. Destaca-se o projeto de extensão “Práticas Extensionistas com as Populações em Contexto de Privação de Liberdade no Sistema Prisional do Estado de Roraima”. a finalidade do presente projeto é estabelecer um diálogo e troca de saberes entre a universidade e a sociedade; associar o ensino da graduação e da pós-graduação com a pesquisa e extensão e, ao mesmo tempo, oferecer, por meio do desenvolvimento de atividades de caráter interdisciplinar e interprofissional elementos que contribuam para a transformação das pessoas em situação de privação de Liberdade, bem como da própria sociedade local e nacional.
A metodologia/estratégia de desenvolvimento do projeto se dará por meio de orientações de leitura e escrita dirigida, elaboração de resenhas; rodas de conversas e escuta qualificada; cine liberdade; atividades de prevenção e cuidados com a saúde física e psíquica; acompanhamentos e orientações jurídicas; trabalhos com hortas comunitárias, dentre outras ações que poderão ser apresentadas a partir das necessidades dos participantes nesse projeto.
Esse projeto se justifica à medida que reafirma o direito à educação e, em particular educação informal, por meio de projetos de extensão, posto que esse parece ser um caminho para a construção das condições da reinserção na sociedade às pessoas em situação de privação de liberdade. Justifica-se, ainda, à medida que possibilitará uma interação entre discentes e docentes da graduação, da pós-graduação da UFRR e um segmento social extremamente vulnerabilizado. Vale salientar, que o referido projeto se encontra cadastrado na direção de extensão da UFRR como projeto-piloto e, em andamento, desde junho de 2023. Essa ação extensionista é desenvolvida também no âmbito do Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-Graduação (PROEXT-PG).
O PPGSOF tem demonstrado um compromisso inegável com a extensão universitária como ferramenta de impacto social, consolidando sua relevância na articulação entre ensino, pesquisa e transformação da realidade local. Projetos como Práticas Extensionistas com as Populações em Contexto de Privação de Liberdade no Sistema Prisional do Estado de Roraima são exemplos concretos desse retorno social, ao promoverem atividades que vão além da academia e chegam a grupos historicamente marginalizados. A iniciativa não apenas estabelece um canal de diálogo entre a universidade e a sociedade, mas também possibilita a troca de saberes e a construção de alternativas para a reinserção social das pessoas privadas de liberdade, por meio de práticas educativas, culturais e de assistência jurídica e psicológica.
Além disso, a participação ativa de docentes e discentes da graduação e pós-graduação nesse projeto reforça a integração entre os diferentes níveis de formação acadêmica e amplia o alcance da universidade no enfrentamento das desigualdades sociais. O fato de essa ação extensionista estar vinculada ao Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-Graduação (PROEXT-PG) evidencia o caráter estruturante da iniciativa dentro do PPGSOF. Assim, a extensão no programa não apenas materializa o compromisso acadêmico com a democratização do conhecimento, mas também fortalece sua contribuição para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Ressalta-se, ainda, as ações de extensão e solidariedade desenvolvidas junto aos migrantes venezuelanos que vivem em Roraima. Entre 2015 e junho de 2024, aproximadamente 568 mil venezuelanos entraram no Brasil, muitos dos quais através de Roraima. Em agosto de 2024, a cidade de Pacaraima, principal porta de entrada, registrou 11.325 novos migrantes, um aumento em relação aos 8.477 de julho. Desses, 4.393 solicitaram residência no país. Desde 2017, a Operação Acolhida atendeu cerca de 950 mil venezuelanos em Roraima, evidenciando a magnitude do fluxo migratório na região. Essa questão tem se transformado em um ponto de conflitos no contexto estadual e nacional, uma vez que esse aumento populacional evidenciou a precariedade dos serviços públicos voltados para o atendimento da população, nas áreas social, educacional e de saúde.
Ainda no campo da extensão universitária também destacamos o projeto Língua Portuguesa para Migrantes e Refugiados, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras (PPGSOF) e que tem como objetivo auxiliar, de forma humanitária, a inserção da comunidade estrangeira no contexto social e cultural do Brasil, com foco especial na cidade de Boa Vista. A iniciativa busca contribuir para o desenvolvimento pessoal, social, econômico e cultural de migrantes e refugiados, especialmente venezuelanos e pessoas de outras nacionalidades, por meio do ensino da Língua Portuguesa como ferramenta essencial para sua integração.
A barreira linguística representa um dos maiores desafios enfrentados por essa população, afetando desde tarefas cotidianas até questões mais complexas, como o acesso a serviços jurídicos e oportunidades de trabalho. Compreendendo essa necessidade, o curso ministra por uma equipe capacitada, em parceria especialmente com o curso de graduação em secretariado executivo trilíngue, adotando uma abordagem instrumental do ensino da língua, garantindo maior efetividade no aprendizado e na comunicação dos participantes.
Além de sua importância social, essa iniciativa fortalece a extensão universitária como um dos pilares da educação superior, ao articular ensino, pesquisa e prática extensionista em um compromisso concreto com o desenvolvimento regional e com soluções democráticas para desafios sociais. Em um contexto de transformação constante da sociedade, o aprendizado da língua portuguesa torna-se um elemento fundamental para que migrantes e refugiados possam se integrar plenamente, superar barreiras e estabelecer-se de maneira digna e autônoma no país.
Além desse projeto, que visa atender diretamente a população migrante, duas outras ações de extensão também desempenharam um papel importante na integração de migrantes, a saber: Elementary English for Academic Uses e English for Academic Uses que tinham como proposta uma abordagem instrumentalizada da língua inglesa e que também foi importante para integração de estudantes migrantes no ambiente universitário brasileiro. No âmbito do PPGSOF os projetos são coordenados pelo professor Renner Coelho Messias Alves e pelo discente Hiago Pereira. Os encontros foram realizados na sala de aula do PPGSOF e somadas as ações atenderam aproximadamente 120 pessoas.
O retorno social do PPGSOF se evidencia de maneira concreta por meio das ações de extensão que visam mitigar os desafios enfrentados pela população migrante em Roraima, especialmente os venezuelanos que chegam ao Brasil em busca de melhores condições de vida. Diante do intenso fluxo migratório na região, o programa tem desempenhado um papel essencial ao oferecer projetos que promovem a inclusão social e educacional desses indivíduos, contribuindo diretamente para sua integração e autonomia. O curso Língua Portuguesa para Migrantes e Refugiados, por exemplo, se apresenta como uma iniciativa fundamental para superar a barreira linguística, um dos principais obstáculos enfrentados por essa população no acesso ao trabalho, à educação e aos serviços básicos.
Além disso, outras ações, como os cursos Elementary English for Academic Uses e English for Academic Uses, também reforçam o impacto social do PPGSOF ao oferecer suporte linguístico para a adaptação de estudantes migrantes no ambiente universitário. Essas iniciativas, coordenadas por professores e discentes do programa, demonstram o compromisso contínuo da pós-graduação com a democratização do conhecimento e o fortalecimento da cidadania. Assim, o PPGSOF não apenas contribui para o avanço acadêmico, mas reafirma seu papel transformador na sociedade, respondendo aos desafios sociais e consolidando-se como um agente de impacto na construção de soluções inclusivas e sustentáveis para a realidade local.
Além dos projetos extensão, algumas ações de pesquisas têm contribuído para aprofundar o tema das migrações e produzir um volume significativo de estudos sobre a nova conjuntura migratória em Roraima. Vários desses estudos fornecem grandes aportes de informações e apresentam elementos para compreensão desse fenômeno e calibração das políticas de acolhida. Nesse ponto, dentre as várias pesquisa que já foram produzidas no PPGSOF na temática de migrações, destacamos o relatório técnico “Oportunidades e Desafios à Integração Local de Pessoas de Origem Venezuelana Interiorizadas no Brasil Durante a Pandemia de COVID-19” no âmbito do projeto “moverse”.
O relatório, publicado em janeiro de 2022, representa um marco na análise das condições de acolhimento e integração dos migrantes venezuelanos no Brasil. Produzido por meio da cooperação entre o ACNUR, ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com financiamento do Governo de Luxemburgo. No PPGSOF a equipe técnica do projeto contou com a participação do professor João Carlos Jarochinski Silva. O estudo oferece um diagnóstico detalhado dos desafios enfrentados pelos venezuelanos interiorizados no país, especialmente no contexto da pandemia. Seu impacto vai além da esfera acadêmica, servindo como referência essencial para a formulação e aprimoramento das políticas públicas de acolhimento e interiorização no Brasil.
A pesquisa envolveu entrevistas com migrantes interiorizados e residentes em abrigos em Boa Vista (RR), além de representantes de organizações governamentais e não governamentais. O documento aborda aspectos como perfil sociodemográfico, inserção laboral, acesso a documentação, segurança alimentar, saúde, vulnerabilidades e dificuldades no processo de interiorização. Também destaca a importância de políticas públicas voltadas para a integração socioeconômica dessa população, especialmente mulheres, que enfrentam desafios adicionais devido a desigualdades de gênero. O relatório busca fornecer dados para o aprimoramento de estratégias de acolhimento e inclusão de migrantes e refugiados venezuelanos no Brasil.
A importância desse relatório se dá pelo seu papel na sistematização de informações fundamentais sobre a população venezuelana interiorizada, permitindo que governos, organizações internacionais e a sociedade civil compreendam melhor as necessidades dessa população. Os dados coletados ajudaram a direcionar ajustes na Operação Acolhida, nacionalmente, contribuindo para o aprimoramento das estratégias de interiorização, a ampliação de acesso a serviços essenciais e a criação de programas mais eficazes de integração econômica e social. Além disso, o relatório foi base para novas abordagens em políticas públicas voltadas para mulheres migrantes, que enfrentam desafios específicos relacionados à desigualdade de gênero e acesso ao mercado de trabalho.
O impacto social desse estudo é significativo, pois possibilitou a identificação de gargalos no processo de interiorização, como dificuldades no acesso à documentação, barreiras linguísticas, precariedade no mercado de trabalho e vulnerabilidades em áreas como saúde e segurança alimentar. A partir dessas informações, foi possível impulsionar iniciativas que fortalecem a proteção e a inclusão dos migrantes, promovendo um retorno social concreto. O relatório também gerou visibilidade para a situação dessa população, sensibilizando setores públicos e privados sobre a necessidade de programas de apoio mais estruturados. Dessa forma, o relatório não apenas documentou a realidade dos venezuelanos interiorizados no Brasil, mas também serviu como ferramenta para a transformação de políticas de acolhimento, contribuindo para uma integração mais digna, humanitária e sustentável dessa população no país.
Dessa iniciativa queremos descatar a participação do professor João Carlos Jarochinski Silva, como conferencista no Global Refugee Forum de 2023, realizado em Genebra, pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, possibilitou ao docente contribuir na elaboração de estratégias e planos para as pessoas refugiadas nos próximos anos, além de divulgar as pesquisas desenvolvidas pelo PPGSOF e, especialmente, as ações de extensão realizadas pela UFRR em benefício desse público. O último Fórum Global havia ocorrido em 2019, antes da emergência humanitária provocada pela Covid-19, que impactou de forma significativa a proteção das pessoas refugiadas. Isso ocorreu porque a maioria dos países optou pelo fechamento das fronteiras, deixando essas pessoas sem acesso a um território seguro, além de outras questões. Evento de alto nível, com a presença de autoridades da ONU, representantes de alto escalão da grande maioria dos países, além de participação da sociedade civil e da academia. Compartilhou boas práticas e iniciativas, mantendo, ao mesmo tempo, uma abordagem crítica sobre a temática e apontando problemas a serem solucionados
Ainda merecem ser citados algumas iniciativas importantes como o Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras (GEIFRON) que se constitui em um núcleo de pesquisa sobre migrações e fronteiras, estabelecendo parcerias com diversas instituições na Amazônia. Suas atividades incluem levantamentos bibliográficos e pesquisas em documentos oficiais de órgãos públicos, como os Ministérios do Trabalho, Justiça, Direitos Humanos e Relações Exteriores. Além disso, investiga a atuação de agências da ONU, como ACNUR, OIM e UNICEF, e colabora com Organizações Não-Governamentais nacionais e internacionais voltadas ao atendimento de migrantes, como Human Rights Watch, Cáritas Brasileira, SJMR e ADRA Brasil. O grupo também mantém vínculos com centros de referência para refugiados e migrantes, como o da UFRR e o Centro de Migrações e Direitos Humanos da Diocese de Roraima.
Deste modo, o Programa se mantém presente em várias frentes de atuação promovendo de forma ativa e efetiva a inserção social. Ademais da inserção local, regional e nacional a visibilidade do PPGSOF se manifesta pela crescente demanda nos processos seletivos, na demanda por disciplinas na condição de Aluno Especial, bem como na participação nos eventos realizados pelo Programa, como é o caso do Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras, o qual é realizado cada dois anos.
A realização destes eventos tem demonstrado o retorno dos esforços em projetar e divulgar o PPGSOF, principalmente por meio dos produtos gerados por eles, como os Cadernos de resumo (impresso), os Anais (digital) e as publicações em forma de Dossiê (impresso e digital). Além do seminário internacional que ocorre a cada dois anos, realizam-se palestras, minicursos, aulas inaugurais, colóquios, lançamentos de livros dos docentes, entre outros. A maior parte da divulgação é feita na página web do programa (https://ufrr.br/sisf/), das páginas de notícias da UFRR.
A produção intelectual do PPGSOF indicada como destaque como exemplos de seu retorno à sociedade está fortemente alinhada com sua missão e objetivos institucionais, estabelecendo o compromisso com o desenvolvimento regional, a formação de recursos humanos qualificados e a geração de conhecimento interdisciplinar sobre a Amazônia, especialmente no contexto de Roraima. Por meio de pesquisas, projetos de extensão e ações de impacto social, o programa não apenas cumpre sua função primordialmente acadêmica, mas também se estabelece como um agente ativo na transformação da realidade amazônica, promovendo reflexões e intervenções concretas sobre desafios sociais, culturais, econômicos e ambientais da região.
A missão do PPGSOF destaca a interdisciplinaridade como um dos pilares da produção científica e da formação acadêmica, algo que se reflete claramente nos projetos e pesquisas desenvolvidos no programa. A atuação em temáticas como migrações, fronteiras, comunidades tradicionais, políticas públicas e desenvolvimento sustentável demonstra a abordagem integrada do conhecimento, articulando ciências sociais, políticas públicas, direito, educação e economia para compreender a complexidade amazônica.
O PPGSOF tem como objetivo geral formar profissionais capazes de refletir criticamente sobre a vida das populações amazônicas e contribuir para o desenvolvimento regional. Essa missão se concretiza em projetos de pesquisa e extensão que atuam diretamente nas comunidades, promovendo conhecimento aplicado e soluções concretas para os desafios da região.
Um dos exemplos mais impactantes é o Projeto Laboratórios Socionaturais Vivos, que fortalece a educação indígena ao implementar práticas pedagógicas inovadoras em escolas indígenas. A iniciativa promove diálogo intercientífico entre saberes acadêmicos e conhecimentos tradicionais, possibilitando que professores indígenas e pesquisadores colaborem na construção de metodologias educacionais mais inclusivas e eficazes. Esse projeto se alinha ao objetivo de compreender os processos sociais que marcam o cotidiano das populações da região, contribuindo para a melhoria da qualidade de ensino e para o fortalecimento das identidades culturais indígenas.
Além disso, o PPGSOF tem contribuído significativamente para a análise das migrações na Amazônia, abordando um dos fenômenos sociais mais relevantes da atualidade: a crise migratória venezuelana. O relatório “Oportunidades e Desafios à Integração Local de Pessoas de Origem Venezuelana Interiorizadas no Brasil Durante a Pandemia de COVID-19”, produzido com a participação de pesquisadores do programa, gerou um impacto direto na Operação Acolhida, ajudando a reformular políticas públicas de recepção e interiorização de migrantes.
Outro objetivo fundamental do PPGSOF é a disseminação do conhecimento científico sobre os desafios amazônicos e o desenvolvimento regional. Isso se concretiza por meio da publicação de relatórios técnicos, dissertações, artigos científicos e eventos acadêmicos de grande impacto, como o VI Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras (SISF) e o I Seminário Amazônico de Ações Afirmativas (SAF).
Esses eventos promovem debates sobre diversidade, inclusão e fronteiras, reunindo pesquisadores de diversas universidades e consolidando a produção intelectual do programa em nível nacional e internacional. Além disso, a criação de dossiês, anais de eventos e cadernos de resumos reforça a importância da produção científica do programa na difusão do conhecimento.
O caráter inovador das produções destacadas se manifesta na abordagem aplicada e na articulação entre diferentes áreas do conhecimento, permitindo uma análise aprofundada das dinâmicas das fronteiras, das migrações e das políticas públicas da região. A extensão universitária também é um eixo central da inovação no PPGSOF, conectando a universidade às comunidades locais. Os projetos apresentados garantem que a produção acadêmica gere impacto direto, promovendo inclusão social e integração.
Outro diferencial inovador do programa é sua atuação na educação intercultural e na valorização dos povos indígenas. O Projeto “Laboratórios Socionaturais Vivos” promove importante contribuições ao ensino em escolas indígenas, promovendo metodologias que respeitam as cosmovisões locais e ampliam a participação das comunidades na construção do conhecimento. A parceria com o Instituto Insikiran reforça esse compromisso, formando professores indígenas que atuam como multiplicadores da educação bilíngue e intercultural.