Publicado em: 9 de outubro de 2024
Atualizado em: 15 de outubro de 2024
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Entender o panorama epidemiológico Saúde Indígena em Roraima permite identificar as principais doenças que afetam essas populações, assim como suas causas e fatores de risco. Esse conhecimento fundamenta a elaboração de políticas públicas e intervenções de saúde mais eficazes, garantindo acesso a cuidados adequados e promovendo a prevenção de doenças.

Tratando de Saúde indígena, é inevitável esbarrar no conceito de equidade, um princípio fundamental que busca garantir que todas as pessoas tenham acesso a cuidados de saúde justos e adequados, levando em consideração suas condições sociais, econômicas e culturais.

No contexto da saúde indígena em Roraima, isso se torna ainda mais relevante, pois as populações indígenas enfrentam desigualdades em relação ao acesso a serviços de saúde. A falta de infraestrutura, profissionais de saúde capacitados e respeito às práticas culturais resulta em disparidades na saúde, exacerbando problemas como doenças infecciosas, desnutrição e problemas de saúde mental.

A situação de preocupação pública dos povos originários de Roraima já vem sendo mostrada há algum tempo nos vários veículos formais e informais de comunicação nacional, como por exemplo, a Situação de Emergência Pública dos Povos Yanomami, declarada em janeiro de 2023 através da Portaria GM/MS nº 28, de 20 de janeiro de 2023. Os quadros de agravos nutricionais e de infecções por doenças passíveis de profilaxia são tão preocupantes quanto a aparente nova tendência do surgimento e agravamento de condições crônicas entre os indígenas dos Territórios de Roraima. Tais situações acabam por demandar cuidados e intervenções imediatas em saúde e em tempo oportuno para reduzir danos e agravos. Entretanto, a cobertura dos serviços de saúde em Terras Indígenas ainda é incipiente.

Barreiras de acesso geográfico limitam fisicamente o contato e a distribuição de recursos para essas áreas. E é comum que em territórios indígenas mais afastados dos grandes centros urbanos, o acesso se dê por vias fluviais ou aéreas, exigindo meios de transporte específicos e um elevado custo operacional para efetivar a saúde nessas regiões. Outro limitador é a pouca disponibilidade de tradutores para os idiomas nativos, fragilizando a semiologia entre o profissional de saúde e o paciente indígena, que é necessária para uma boa anamnese e formação de contato entre paciente e profissional, além de oferecer diagnósticos assertivos.

Atendimentos que exigem níveis de especialidades maiores são realizados apenas na capital do estado de Roraima, Boa Vista. Antes, isto significava a necessidade de remoção desse indígena, causando uma série de transtornos que envolvem uma elevada demanda e uma baixa oferta de serviços de especialidades. Conforme a Portaria nº 138/SESAU/CGAN, de 09 de fevereiro de 2022, nove mil pessoas aguardavam a realização de procedimentos cirúrgicos eletivos no estado de Roraima. Esses dados servem para contextualizar a sobrecarga do Sistema Público de Saúde, que deve dar conta de oportunizar o acesso à saúde para todas as pessoas em todos os níveis de atenção. Indígenas referenciados para Boa Vista, entram nas filas de atendimento convencionais. Portanto, não há definição de prioridades dos indígenas sobre os não indígenas no atendimento público de saúde.

O documento lançado pela Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) em janeiro de 2024, intitulado Doenças Negligenciadas no Estado de Roraima, 2018-2023,  demonstra um panorama da situação epidemiológica regional. O termo “Sobreposição de casos novos de Doenças Tropicais Negligenciadas” (DTN), se refere à análise e ao mapeamento da incidência de diferentes DTN em regiões específicas e é importante para entender a distribuição geográfica e o comportamento epidemiológico dessas doenças ao longo dos tempos. Além disso, pode auxiliar como preditor dos efeitos  sobre a população e o Impacto das Intervenções em saúde.

É mais provável que as cargas de Doenças Negligenciadas incidam com maior força sobre regiões que ainda estão passando pela Transição Demográfica e Epidemiológica, sendo estas regiões, consideradas como mais vulneráveis e suscetíveis a Sobreposição de Doenças Infecciosas e Parasitárias, quando comparadas com a carga de Doenças Crônicas e Degenerativas. O gráfico 1 demonstra o estado de Roraima com uma alta taxa desse indicador, que se torna mais intenso a depender do município levado em consideração. Entre os anos de 2018 a 2023, houve o registro de mais de 180 mil casos de Doenças Negligenciadas no estado de Roraima, conforme exposto na tabela 1. 

Gráfico 1 – Comparativo da Sobreposição de casos novos de Doenças Tropicais Negligenciadas – DTN por municípios [A] e a distribuição espacial da sobreposição de DTNs (óbitos) segundo municípios de residência.

Fonte: adaptado do Boletim Epidemiológico de Doenças Tropicais Negligenciadas no Brasil de janeiro de 2024 (2024).

Malária é a doença mais prevalente no estado, superando 20 mil casos anuais, representando um problema de saúde pública local. Apenas em 2023, 33.743 casos da doença foram confirmados (tabela 1). Destes, 67,6% (n=22.829 casos) foram notificados em área indígena, sobretudo na Terra Indígena Yanomami (TIY) onde o garimpo estava instalado.

Todos os municípios do estado apresentaram a transmissão de malária. Porém a Incidência Parasitária Anual (IPA) de 2023, demonstra que 07 municípios foram classificados como sendo de alto risco para a transmissão da doença (Alto alegre, Amajari, Iracema, Mucajaí, Caracaraí, Caroebe e Canta – IPA >50 casos/1000 hab.). Quatro foram classificados como de médio risco (São Luiz, São João da Baliza, Bonfim, Uiramutã – IPA entre 10 e 50 casos/1.000 hab), e quatro municípios foram classificados como de baixo risco (Rorainópolis, Normandia, Pacaraima, Boa Vista – 1 a 10 casos/1.000 habitantes).

Tabela 1 – Série histórica com o número de casos de Doenças Negligenciadas confirmados registradas no estado de Roraima entre os anos de 2018 a 2023.

Doença
201820192020202120222023Total
Malária 23.369 22.794 30.222 26.009 25.725 33.743 161.862
Dengue 112 1.596 497 11962 221 2.607
Tuberculose 279 333 341 392 5376972.579 
Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA)429 2482535424413972.310
Leishmaniose visceral20 1416221817 107 
Tracoma 1.718 8101.727
Hanseníase 1361215684 6479 540
Chikungunya39248509527243
TOTAL26.10224.13831.39327.21926.94235.181171.975

Fonte: Doenças Negligenciadas no Estado De Roraima, 2018-2023, (2024).

Segundo o documento da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) que retirou seus dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica em Malária (SIVEP-Malária), entre 2010 e 2023 houve mais de 130 casos de óbito pela doença. Malária é uma doença de diagnóstico e tratamento acessível na maior parte dos casos, o que parece paradoxal observando estes indicadores. A explicação para este índice de mortalidade elevado está relacionada ao diagnóstico e tratamento tardio.

A distribuição de malária não é igual para os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), sendo mais incidente naqueles em que se regista maior atividade de mineração de metais preciosos, oportunizando casos de exposição à doença. A intensificação da atividade mineradora em terras indígenas se relaciona com a dinâmica do processo de diagnóstico e notificação que nem sempre acontecem no mesmo local ou município de infecção, em razão do fluxo das massas populacionais em busca de assistência. 

A reintrodução de Plasmodium falciparum em municípios que antes já haviam controlado sua transmissão é um problema que foi intensificado pelo fluxo de garimpeiros nas Terras Indígenas Yanomami expondo casos de vulnerabilidade social e contribuindo em grande parte para que o Ministério da Saúde declarasse Situação de Emergência em Saúde Pública na população Yanomami por meio Portaria GM/MS nº 28, de 20 de Janeiro de 2023.

Nos últimos 5 anos, foram notificados mais de 2.500 casos de dengue no estado (n=2607). Destes casos, a maioria dos pacientes cursava com a dengue na forma clássica; ou seja, sem sinais de gravidade da doença. Os dados da CGVS referem que no ano passado (2023) houve a identificação de 3 sorotipos da dengue em 5 municípios de Roraima, com predomínio do sorotipo DENV3. Apesar deste achado, não é possível predizer a ausência circulação desses sorotipos em outros municípios. Isso em especial pode ser um problema de saúde coletiva porque oportuniza coinfecções de sorotipos diferentes da dengue no mesmo paciente, podendo surgir casos com sinais de gravidade da dengue, fato este, que aumenta os índices de morbimortalidade por dengue. 

Ao longo dos anos, os casos de dengue que são notificados e confirmados tendem a sofrer flutuações importantes (tabela 1). As razões para estas variações são várias. Está muito descrito na literatura, a relação entre dengue  com a sazonalidade local e  aumento dos índices pluviométricos, que são variáveis ao longo do ano em Roraima. Considerando os dados dispostos na tabela 1, o ano de 2019 foi atípico, com 1.596 casos confirmados.

Dados do Governo do Estado de Roraima e da CGVS citam que de janeiro a julho de 2024, o estado Roraima registrou 546 notificações de casos prováveis de dengue, e que tal número está relacionado ao período chuvoso. Ainda segundo o levantamento, a capital, Boa Vista, liderava o número de casos prováveis, com 222 casos; seguida dos municípios de Rorainópolis, com 116 casos; e Normandia com 53 casos. Estas informações demandaram ações em 15 municípios para eliminar possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti, o vetor da dengue e outras doenças como a Chikungunya, Zika e Febre Amarela.

Dengue é uma doença que causa vários impactos à saúde humana, traduzindo-se em poucas palavras como uma patologia febril, aguda e principalmente, prostrante. Os dados do Ministério da Saúde (disponíveis aqui) demonstram  que de 2013 a 2023, Roraima experienciou 5 casos de óbito pela doença.

O documento intitulado “Panorama de Tuberculose em Roraima, 2013 a 2023” publicado em abril de 2024 pela CGVS trouxe que a tuberculose foi a segunda maior causa de morte por um único agente infeccioso no território nacional  no ano de 2022, perdendo apenas para o vírus Sars-Cov, causador da Covid-19. Tuberculose é uma doença passível de tratamento e prevenção a partir de ações multisetoriais. Mesmo assim, as taxas de infecção e óbito ultrapassam os 80 mil casos anuais no Brasil, representando um problema de saúde pública que sugere múltiplos contornos.

O Coeficiente de Incidência de Tuberculose é um indicador importante porque estima o risco de adoecimento em qualquer uma das suas formas clínicas (pulmonar e extrapulmonar) numa determinada população e num determinado espaço de tempo. Este indicador teve um crescimento de 200% de 2013 a 2023 no estado de Roraima, conforme o gráfico 2.

Gráfico 2 – Coeficiente de incidência de tuberculose (casos por 100 mil hab.) por Unidades da Federação. Brasil, 2023

Fonte: Boletim epidemiológico – Tuberculose, 2024 (2024).

Levando em conta apenas os dados dispostos no Panorama de Tuberculose em Roraima, apenas no ano de 2023, o Coeficiente de Incidência no Brasil demonstrava certa estabilidade com aproximadamente 34 casos por 100 mil habitantes, ao passo que em Roraima, este indicador era de 85,7 casos por 100 mil habitantes, conforme  evidencia o gráfico 2.

 Quanto ao número de casos novos de tuberculose, houve o aumento de 241,3% no período de 2013 (n=155) a 2023 (n=529) com tendência crescente em todo o período (gráfico 3). O objetivo Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como problema de Saúde Pública é de reduzir o coeficiente de incidência da tuberculose no país para menos de 10 casos por 100 mil habitantes até o ano de 2035, mas esta parece ser uma meta um pouco distante das realidades local e nacional.

Gráfico 3 – série histórica representando o Coeficiente de Incidência de Casos de Tuberculose e de casos novos por 100 mil habitantes para o estado de Roraima no período de 2013 a 2023.

Fonte: Panorama de Tuberculose em Roraima, 2013 a 2018, CGVS (2024).

Levando em conta o período de 2018 a 2023, Roraima teve o diagnóstico de mais de 2.500 casos de Tuberculose (n=2.579) (tabela 1), onde destes casos houve 112 registros de óbito, sendo 28 apenas em 2023 onde 11 destes se deram em migrantes venezuelanos. 

Populações em situação de vulnerabilidade social possuem maior risco de adoecimento, a exemplo de migrantes, principalmente venezuelanos, pessoas inseridas no sistema prisional (Pessoas Privadas de Liberdade – PPL), pessoas que vivem com HIV/AIDS e Indígenas. Ainda de acordo com o Panorama de Tuberculose em Roraima da CGVS, em 2023, as populações vulneráveis representavam 68,1%, sendo que 18,5%  dos casos totais envolvia populações indígenas.

Na distribuição do Coeficiente de Incidência de casos novos por município, em 2023, quatro tiveram este indicador acima da média do estado, sendo eles: Pacaraima, Alto Alegre, Boa Vista e Amajari, conforme o gráfico 4. Pacaraima apresentou 114 casos por 100 mil habitantes sendo que 95% desses casos (n=108,3) são em migrantes venezuelanos. Em Alto Alegre, o índice fica em 113,8 casos por 100 mil, habitantes em que 79,2% destes casos são em Indígenas (n=90,1).

Boa Vista responde por 96,7 casos por 100 mil habitantes, em que 58,5% são em populações vulneráveis (n=56.5), sendo 31,5% em imigrantes e 27% na população privada de Liberdade (PPL). Amajari, por sua vez, conta com 79 casos por 100 mil habitantes sendo que 90,9 são distribuídos em populações vulneráveis. 72,7% são indígenas Yanomami (n=57,4) e 18,2% são imigrantes venezuelanos (n=14,3). Somente na população Indígena de Roraima para o ano de 2023, o Coeficiente de Incidência foi de 91,5 casos por 100 mil habitantes. 

Gráfico 4 – Coeficiente de Incidência de Casos Novos de Tuberculose por cem mil habitantes para quatro municípios do Estado de Roraima  em 2023.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponíveis em Panorama de Tuberculose em Roraima, 2013 a 2023 (2024).

Outras informações a respeito da distribuição epidemiológica da Tuberculose no estado de Roraima e os municípios que o compõem podem ser livremente consultadas nos seguintes meios oficiais de divulgação de informações em epidemiologia: Boletim Epidemiológico de Tuberculose para o ano de 2024, Panorama da Tuberculose em Roraima, 2013 a 2023 e Doenças Negligenciadas no Estado De Roraima, 2018-2023.  

Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA)

A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) ocorreu em uma média de 385 casos por ano, considerando o período de 2018 a 2023 e totalizou mais de 2 mil casos da doença no mesmo período (n=2.310). De acordo com o relatório de Doenças Negligenciadas para o estado de Roraima, os números de LTA em Roraima representam cerca de 20% dos índices nacionais. Não parece haver dados mais atualizados sobre a Leishmaniose Tegumentar Americana publicados por entidades públicas de saúde para o estado de Roraima, entretanto, isto não significa ausência de importância epidemiológica local, principalmente tendo em vista que sta é uma doença de notificação compulsória.

Um trabalho científico publicado intitulado Perfil Epidemiológico da Leishmaniose Tegumentar Americana no Extremo Norte, apresentado em 2021, tinha o objetivo de analisar a incidência de casos da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) nos municípios do estado de Roraima. Os autores utilizaram dados disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e constataram que as populações residentes de zona rural de Caroebe, um dos municípios mais ao sul de Roraima, foram as mais afetadas pela doença com uma média de 7,1 casos a cada mil habitantes. Entretanto, este se trata de um trabalho relativamente antigo e não é possível predizer a distribuição da doença nos dias atuais. 

Leishmaniose Visceral (LV)

Leishmaniose Visceral é a forma mais grave da LTA. De acordo com os dados apresentados na tabela 1, nos últimos cinco anos (2018 a 2023) houve 107 casos confirmados da doença no estado de Roraima e sete óbitos. Destes, 3 aconteceram em crianças indígenas menores de um ano de idade. Comparando estes dados com os apresentados em Dados e Indicadores Selecionados – Roraima, em 2023, apenas 17 casos foram notificados no estado de Roraima

A distribuição geográfica dos casos está restrita a apenas alguns municípios de Roraima em 2023, em que 6 foram notificados em Boa Vista e 6 no de Uiramutã, quatro foram notificados em Normandia e apenas um foi notificado em  São João da Baliza. Nenhum outro município apresentou casos de Leishmaniose Visceral. Apesar desses dados serem um pouco tranquilizantes por passar a sensação de controle, em 2020, o vetor Lutzomyia longipalpis foi encontrado nos municípios de Amajari, Boa Vista, Bonfim, Normandia, Pacaraima e Uiramutã, o que sugere a possibilidade de disseminação da doença para outras regiões.

É importante contextualizar esta doença. O tracoma é uma doença causada pela bactéria Chlamydia trachomatis e sua distribuição epidemiológica está relacionada a condições de pobreza e precariedade do saneamento básico. Algumas características trágicas desta doença são que crianças estão mais suscetíveis a infecções e reinfecções, e não se observa imunidade natural ou adquirida à C. trachomatis. 

O tracoma não é uma doença de notificação obrigatória, mas faz parte da lista patologias de interesse nacional porque há metas de eliminação dessa como problema de saúde pública. Para atingir esta meta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pôs os seguintes alvos: 

  • Prevalência de Tracoma Folicular (TF) menor que 5% em crianças de 1 a 9 anos sustentada por ao menos dois anos na ausência de administração massiva de antibióticos em distritos previamente endêmicos;
  • Prevalência de Triquíase Tracomatosa (TT) desconhecida pelo sistema de saúde inferior a 0,2% em pessoas de 15 anos ou mais de idade ou menos de 1 caso por cada 1.000 habitantes, em distritos previamente endêmicos;
  • Descrever a evidência por escrito de que o sistema de saúde tem condições de garantir a identificação e manejo de casos incidentes de TT.

O documento intitulado Situação epidemiológica das zoonoses e doenças de transmissão vetorial em áreas indígenas publicado pelo Ministério da Saúde em abril de 2022 descreve que os Distrito Sanitário Especial Indígena Leste de Roraima (DSEI Leste) e Yanomami (DSEI Y) demandam ações de vigilância e controle dessa doença em território indígena por apresentarem hiperendemicidade. Entre as mobilizações do Ministério da Saúde estavam a busca ativa, uso de antibióticos para o tratamento de infectados e seus contatos domiciliares e tratamento coletivo quando a prevalência de Tracoma Folicular fosse igual ou superasse 10%.

Expandindo os horizontes para o estado de Roraima como um todo, de acordo com a tabela 1, entre os anos de 2018 e 2023 foram notificados 1.727 casos da doença em Roraima, em que o ano de 2018 foi responsável por 1.718 casos da doença.

Desde a introdução das medidas nacionais de controle da Hanseníase baseadas na Poliquimioterapia (PQT), houve redução da prevalência da hanseníase e na ocorrência de novos casos no Brasil. Considerando o ano de 2022, a taxa de detecção de casos novos de hanseníase dadas por 100 mil habitantes de Roraima ficava em 8.3, próximo da média nacional de 9.6 (Gráfico 5). De 2018 a 2023, Roraima registrou 398 casos novos da doença. 

Gráfico 5 – Taxa de detecção geral de casos novos de hanseníase (por 100 mil habitantes) por unidade da Federação de residência

Fonte: Boletim Epidemiológico – Hanseníase, 2024 (2024).

Embora seja uma doença de baixa letalidade, a hanseníase é capaz de gerar incapacitações permanentes. Um fator preocupante que se agrega a esta informação é  a modificação a nível regional e nacional do perfil clínico dos acometidos pela doença, conforme evidencia o Boletim Epidemiológico de Hanseníase publicado em janeiro de 2024. A proporção de casos novos de indivíduos diagnosticados como Multibacilares saiu de 62,9% em 2013 para 83,6% em 2022. Mas de acordo com uma publicação oficial no site Ministério da Saúde e o próprio site do Governo do estado de Roraima, em 2022 Roraima foi considerado o estado brasileiro com menor número de casos de hanseníase. 

Os números efetivos de casos novos da doença em Roraima podem ser consultados na tabela 1.

A história desse arbovírus no estado de Roraima não é antiga. Em 2017, Roraima passou por uma epidemia de casos de chikungunya, chegando a 6.760 casos notificados e nos últimos cinco anos (2018 a 2023) foram notificados 243 casos da doença. Especialmente em 2023, o estado de Roraima registrou um aumento de casos chegando a 71 casos prováveis de chikungunya nos municípios do estado, sendo 29 em Boa Vista, 18 no Cantá, 14 em Caracaraí, 4 em Rorainópolis, 3 em e São João da Baliza, 1 no Caroebe e 1 em Normandia. 

O fato de chikungunya possuir similaridade em sinais e sintomas com outras arboviroses dificulta a detecção clínica da doença, podendo ter o desfecho indesejado do manejo clínico inadequado, que predispõe o indivíduo a formas de gravidade da doença e eventualmente ao óbito. 

Cenários de risco em Roraima são enquadrados principalmente pela sazonalidade local. Para situações epidêmicas, onde o número de casos e o número de transmissões se comportam com a incidência acima do esperada, o estado de Roraima dispõe do Plano de Contingência de Arboviroses para o estado de Roraima que analisa os cenários de risco e define estratégias para contornar a situação instalada.

O artigo intitulado Avaliação parasitológica em indígenas Yanomami da Amazônia brasileira publicado em janeiro de 2024 estudou a incidência de parasitoses na população Yanomami, residente em aldeias localizadas nos estados de Roraima e Amazonas através de exames parasitológicos de fezes. O estudo envolveu a coleta de 22 amostras em indivíduos saudáveis e destas, 9 (41%) foram positivas  para  presença  de  parasitos  intestinais.

Um dos fatores que se considera limitante para o estudo é que a amostra sutil que pode não representar uma característica global e não permitindo a extrapolação dos dados, dificultando uma comparação efetiva. Entretanto, chama a atenção a presença de 41% de indivíduos infectados. 

Os dados publicados no relatório de Doenças Negligenciadas no estado de Roraima sugerem que  há o registro de nove óbitos por “helmintíase” entre 2018 e 2023. Porém, quando se avalia a mortalidade por “Doenças infecciosas intestinais” observa-se o registro de 201 óbitos, sendo 183 por “Diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível”. Considerando que Helmintíases não são doenças de notificação obrigatória, os dados disponíveis nos Sistema de Informação e Notificação podem não representar as realidades regionais.

Alguns autores, inclusive problematizam parasitoses intestinais e helmintíases em populações vulneráveis (como indígenas) por haver sobreposição de várias parasitoses intestinais oportunizando casos graves de desidratação, déficits nutricionais importantes, várias formas de anemia, obstruções intestinais e infecções ectópicas. 

É necessário que haja estudos epidemiológicos mais representativos com as populações indígenas para analisar a distribuição dos agentes etiológicos e para que haja medidas profiláticas e de erradicação das doenças, melhorando as condições de morbi-mortalidade. 

Essa doença parasitária crônica vetorial causada pelo Onchocerca volvulus e transmitida pelo Simulium, é considerada a segunda causa mundial de cegueira infecciosa irreversível. Epidemiologicamente, esta doença é importante na Terra Indígena Yanomami (TIY) na área fronteiriça com a Venezuela, sendo o único espaço brasileiro endêmico da doença (Figura 1).  Dos 37 polos base que compõem a área Yanomami, 22 são endêmicos para oncocercose. As regiões de transmissão da oncocercose são subdivididas em endêmicas, hiperendêmicos e hipoendêmicas.

Entretanto, o MS descreve que a oncocercose está em fase de pré-eliminação e não há registros de casos sintomáticos no Brasil entre 2000 e 2018. Na verdade, na última avaliação epidemiológica em profundidade, que foi realizada em três polos-base em 2016, revelou 33 casos para a oncocercose.

 A vigilância tem sido realizada em intervalos de 4 anos, por meio de inquéritos entomológicos e parasitológicos (biópsias de pele para sorologia) na população indígena Yanomami. Os dados colhidos a partir da vigilância sugerem que há uma tendência de queda acentuada da prevalência da infecção dos residentes.

Embora esta tendência de queda sejam animadoras, a atividade garimpeira na Terra Indígena Yanomami desperta preocupação epidemiológica quanto a possibilidade da ocorrênia de casos da doença entre garimpeiros.

A estratégia adotada pelo MS para manter esses indicadores em queda é o tratamento em massa entre os indígenas com foco especial para a cobertura em áreas endêmicas da população residente e circulante na área endêmica da TIY. O tratamento é baseado na quimioprofilaxia semestral a base de Ivermectina. Por isso é necessário que haja a manutenção do tratamento coletivo com periodicidade e homogeneidade com cobertura acima de 85%.

Figura 1 – Área endêmica para oncocercose no Brasil.

Fonte: Boletim Especial: situação epidemiológica das zoonoses e doenças de transmissão vetorial em áreas indígenas 


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