Histórico do programa
O Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Roraima (PPGL-UFRR) encontra-se localizado num ambiente marcado por fronteiras, tanto geopolíticas quanto culturais. Boa Vista, e por conseguinte a própria UFRR, está localizada no extremo Norte do Brasil, numa faixa de tríplice fronteira: Brasil, Venezuela e Guiana, portanto, falantes nativos de inglês e espanhol constituem parcela importante dos alunos da UFRR e do PPGL.
Para além da relação com as línguas dos países vizinhos, temos diversas fronteiras linguísticas e culturais notadamente marcadas no interior do próprio estado: são pelo menos 14 línguas indígenas ainda faladas e um sem-número de situações de contato e vitalidade linguística. Essa diversidade se reflete na produção cultural, que além de apresentar a característica do multilinguismo, é marcada pelas complexidades sociopolíticas e simbólicas fronteiriças, intensificadas pelas migrações históricas de cidadãos de todas as partes do Brasil para Roraima. Com isso, as literaturas roraimenses, parte das amazônicas, de acordo com as áreas culturais definidas pela pesquisadora Ana Pizarro, são marcadas por imagens das paisagens naturais locais ― seja a floresta, o cerrado (lavrado roraimense), os rios etc. ―, bem como pelos trânsitos humanos, fortemente vinculados ao universo fluvial, e os contatos culturais resultantes dessa movimentação, mediados pelas fronteiras e pelas relações interculturais. Dessa forma, o universo linguístico e cultural em que estamos inseridos representa um vasto e complexo campo de pesquisas para as áreas dos estudos linguísticos e literários.
Foi a partir da consciência de toda essa riqueza que um grupo de professores, todos recém-doutores, começaram a conceber uma proposta de Programa de Pós-graduação em Letras que pudesse dialogar com as Ciências Humanas, pela relação estreitíssima entre elas e a área de Linguística, Letras e Artes, e, dessa forma, atender uma enorme demanda represada por qualificação nessas grandes áreas. Depois de quatro anos de trabalho e contando com apoio institucional, o PPGL da Universidade Federal de Roraima (PPGL-UFRR) foi recomendado pela CAPES em 2008, no entanto, sua implantação ocorreu só em 2010 em função de um embargo judicial na primeira seleção de alunos.
Quando de sua implantação, o PPGL era o único programa de Pós-Graduação stricto sensu na área de humanas não só na UFRR, mas em todo o estado, sendo também um dos poucos da Região Norte na área de Letras. Assim, além dos graduados em Letras, contávamos ― e ainda contamos ― com candidatos com formação em diversas áreas afins, como Educação, Antropologia, Comunicação, História e Artes.
Nesses onze anos de funcionamento, acreditamos ter cumprido, desde o início de nossas atividades, um papel importante na nucleação e incubação de novos programas, dando uma amplitude ainda maior à perspectiva pioneira do PPGL e à sua contribuição para a sociedade circundante. Nos últimos anos, o PPGL contou com professores de áreas afins como colaboradores e permanentes em seu corpo docente, o que permitiu que esses profissionais adquirissem experiência para que, a posteriori, planejassem e criassem outros programas de pós-graduação nas área das Ciências Humanas e Sociais, o que ocorreu tanto na UFRR como na Universidade Estadual de Roraima-UERR (Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras – PPGSOF- UFRR – Ciências Sociais e História; Programa de Pós Graduação em Antropologia – UFRR; Programa de Pós-Graduação em Educação – UFRR; Programa de Pós-Graduação em Comunicação – UFRR; Programa de Pós-graduação em Educação PPGE-UERR). Ao mesmo tempo, esses profissionais puderam atuar, ainda, nos mestrados interinstitucionais ofertados com universidades de dentro e de fora da Amazônia, além de um doutorado em rede na área de Educação (2018).
É preciso que se saliente que desde sua implantação, em 2010, os professores do programa promoveram uma ampla integração entre pós-graduação, graduação e extensão, através da organização de e participação em eventos científicos envolvendo graduação e pós, orientações de TCCs de graduação e de especializações, orientações de Iniciação Científica, oferta de cursos de extensão, parcerias com o PET-Letras, que reúne atividades de pesquisa, ensino e extensão, e o NUCELE (Núcleo de Ensino de Línguas Estrangeiras/UFRR), atendendo alunos estrangeiros oriundos de convênios internacionais ― PAEC-OEA ― através do Curso de Português como Língua Estrangeira, bem como realização do exame CELPE-BRAS. Através de ações como estas, buscamos garantir a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, condição sine qua non para o credenciamento de docentes no PPGL.
Cientes da função e do papel social a nós destinados, entendemos como compromisso inalienável trabalhar em prol de uma maior integração com as comunidades indígenas do entorno e com a população negra (pretos e pardos) que formam a população roraimense, marcada fortemente pela migração. Tendo isso em vista, reservamos 20% do total de vagas ofertadas por ano para ingresso de graduados indígenas e negros, adotando o sistema de cotas via Edital específico de Ações Afirmativas. Ainda pensando na necessidade das ações afirmativas, o PPGL conta hoje com professores doutores lotados nos cursos de graduação do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena e, mais recentemente, com a criação do curso de Letras-Libras em 2013, credenciamos professores desse curso e, em 2019, tivemos o ingresso de nosso primeiro aluno surdo. Nesse contexto, o PPGL-UFRR procura se consolidar como um espaço acadêmico/científico de reflexão sobre a diversidade e à promoção de estratégias que fomentem a igualdade social.
Desde 2010, já são 128 dissertações defendidas que contribuem, principalmente, para a formação acadêmica dos profissionais da área de Linguística, Letras e Artes na Região, bem como para as áreas de Artes, História, Comunicação e Educação. Com efeito, a pluralidade é uma de nossas marcas. Em termos de inserção na América Latina, contamos ainda com alunos procedentes de diferentes países latinoamericanos, a saber: 01 venezuelana e 01 colombiano e 03 hondurenhos, selecionados a partir do Programa Acolhida em acordo com o PAEC-OEA.
Apesar da pandemia que se instalou no Brasil em março de 2020, conseguimos realizar logo no início do ano nove defesas da turma de 2018, cinco defesas já haviam ocorrido ainda em 2019 e apenas uma defesa ocorreu com atraso, dentro do prazo dilatado informado pela CAPES. A nossa seleção da turma de 2020 ocorreu totalmente no formato virtual, oferecemos vinte e quatro vagas de ampla concorrência e seis de ações afirmativas (para se ter uma ideia da evolução, nossa primeira turma, em 2010 teve apenas oito aprovados), com o total de quarenta e seis candidatos inscritos (oito inscritos no edital de ações afirmativas e vinte e oito inscritos no edital de ampla concorrência). Ao final da seleção, tivemos vinte e quatro aprovados na ampla concorrência, ocupando todas as vagas disponíveis. No âmbito das ações afirmativas, o PPGL tem sido mais procurado a cada ano, das seis vagas ofertadas em 2019 tivemos a entrada de cinco alunos indígenas e um aluno surdo. O mesmo ocorreu em 2020, das seis vagas ofertadas para ações afirmativas, cinco alunos indígenas aprovados e um aluno surdo. Cabe ressaltar que os dois mestrandos surdos já são professores do Curso de LIBRAS da UFRR e através da inserção desses dois discentes, temos observado o aumento de interesse de estudantes do Curso de LIBRAS em torno do PPGL.
Ainda em relação aos alunos surdos, em 2020 realizamos pela primeira vez as etapas de seleção, prova e entrevista, em LIBRAS através do apoio do Núcleo de Acessibilidade da UFRR. O referido núcleo tem nos dado o suporte necessário nas aulas, eventos e cursos onde temos a presença do público surdo. Para 2021, já temos editais abertos e ampliamos a nossa entrada de vagas para 32 no total, 26 de ampla concorrência e 6 de ações afirmativas. Esse aumento de vagas ocorreu em razão do recente credenciamento de novos pesquisadores ao quadro do PPGL, e na busca de uma maior inserção social do programa na comunidade local.
Quanto à presença dos professores surdos do curso de graduação em LIBRAS da UFRR, no quadro de discentes deste programa, convém apontar, ainda, que desde o início o PPGL tem se empenhado e destacado em estimular e titular os professores mais antigos (que entraram no período de fundação da UFRR, no qual não se exigia títulos para concurso na UFRR) do quadro de Letras e de áreas afins da graduação (e mesmo os mais novos, em áreas como LIBRAS, onde a oferta de cursos de pós-graduação ainda é rara), de modo a estabelecer um forte vínculo com a graduação e, em consonância com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI-UFRR), melhorar as condições formativas do quadro de professores da própria instituição, no que tange à graduação. É importante mencionar que o PPGL também tem contribuído para a formação do quadro técnico administrativo da UFRR, do Colégio de Aplicação da UFRR, Escola Agrotécnica da UFRR, Instituto Federal de Roraima, Universidade Estadual de Roraima e também nas redes do Ensino Básico estadual, municipal e privada, conforme pode ser visto com mais detalhes no nosso relatório sobre os egressos.
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